quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Crash

Um vaso quebrado será sempre um vaso quebrado
Mesmo colado. Durepoxi, super cola..
Pedaços recuperados reconstituem a hora
Em que ele caiu da mesa de centro
derrubado pela força do vento
Que invadiu a sala
A culpa sera do acaso,
O mérito, para quem colar o vaso,
E, para quem deixou a janela aberta,
Fica o vão desejo de se redimir.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sem Nome...


Um velho senhor caminha pelo parque, com as mão no bolso, boina,
e um cigarro de palha no canto da boca. Observa a paisagem a seu redor,
esforçando-se para respirar aquele ar levemente puro do oásis verde em meio
á cidade cinza.
Mais á frente, um jovem sentado no encosto de um banco toca um violão.
Aproxima-se dele o velho homem, com um certo cuidado, como quem observa um pássaro, para não atrapalhar o rapaz, um hippie de chinelos e colar de dentes de algum animal que ele não imagina qual seria, mas supõe que deveriam pertencer á algum "bicho" grande.
O jovem percebe a presença do senhor ali, que imediatamente se desculpa por qualquer coisa. Ele apenas sorri.
- Não se desculpe Tio, tá tranquilo. Quer tocar? - Oferece-lhe o violão.
- Não, não!! - Esquiva-se. - Eu não tenho o menor jeito para isso, filho. - O hippie ri, o que o deixa mais á vontade.
- Tá á fim de ouvir um som então Tio? O que o senhor gosta?
Vasculha seus arquivos mentais coçando a cabeleira de predominantes cabelos brancos. Escolhe uma canção, dos anos 60, mas sem crer que seja uma das canções que o hippie saberia tocar.
- Obviamente não é do seu tempo, filho! - Ri
- Não é, realmente, mas conheço! - O velho se surpreende e lança um sorriso desafiador. - Só
que vai lhe custar uma merreca; três mangos! É que é meu "trampo", entende? - Aceita a proposta, o hippie se põe a tocar.
A cada nota, flashes de tempos idos pipocam em sua mente, e o artista, que desconhece as circuntâncias que levaram aquele senhor pedir por aquela canção, pode sentir sua emoção, e busca dentro dela o núcleo daquelas expressão de satisfação. Ele entra na canção para sentir o que o velho sente, seja o castigo de
um ato abortado pelo medo, a lembrança de um tempo que jamais voltaria... Quem sabe, não seria a falta de uma pessoa que complementasse o seu ser, e perdeu-se nesse tempo... Por medo talvez? Poderia ser tudo, qualquer coisa, talvez tudo para ele, e provavelmente nada para qualquer outro.
Ao fim da canção, o velho homem tira do bolso do casaco um lenço e enxuga a face enrugada por trás dos dos óculos de lentes grossas.
- E então meu amigo? - Diz o artista hippie, de braços cruzados sobre o instrumento. - Espero que tenha sido do seu agrado.
Ele responde com um sorriso de satisfação, pagando, em silêncio, um valor maior do que o combinado.
- Essa música é muito bonita né, Tio? Passa uma vibração positiva pra gente, alegria de viver e tal.
O velho acende mais um cigarro, oferece um ao rapaz, dá uma tragada e solta á fumaça para cima.
- E olha que eu tava tão triste quando a escrevi...
Despede-se.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Alívio


A primeira foi na testa.
A segunda foi no peito. Daí então tudo escureceu, Após um clarão que de repente se deu. A camiseta ensopada, Pesava colada nas costas, Sentia um medo profundo Era aquilo o fim de tudo? Todos dispersam á procura de proteção Mas eu não, já não dá... Já não dá pra correr, se proteger Fui atingido... Mas já não ligo. Alívio.


A primeira gota foi na testa, A segunda gota foi no peito. Daí então tudo no céu escureceu Após clarão de um trovão que se deu. A camiseta ensopada, tanta água Pesava colada nas costas Sentia um medo profundo. Seria aquilo o fim de tudo? Dilúvio? Todos dispersam á procura de proteção Sob masquises Mas eu não, na verdade nem quis Já não dá pra correr, e pra quê? Se proteger de quê? Fui atingido pelo temporal, desprevinido Mas já não ligo, a chuva é meu batismo. Alívio...